Do discurso (M)E(u)gocêntrico

Chegou o dia, esperado dia, que, mesmo após dois anos de de persistência, chegou o dia que desisti de desistir de mim.

   Na verdade não se trata de um dia que eu olhei no espelho, de cabelo novo, e pensei: velho, até que sou gata! Foi um processo de aceitar minhas loucuras irremediáveis, minhas angústias permanentes, frustrações e sonhos como parte de mim, parte daquilo que não preciso mudar, nem para me adaptar, nem para agradar, nem para ser aceita...aliás, se é para agradar, estou agradando a mim.
   Foi então que ao ME agradar eu descobri que ajudar os outros me faz sentir bem, que artes me fazem bem, que sorrir por (e fazer) piadas bobas me faz bem, por deixar meu coração perto do coração dos meus amigos me faz bem.
    Se a aparência externa ajudou? Ah mas é claro! Como qualquer pessoa adoro me olhar no espelho e me sentir desejável, mas nada foi mais importante que me abster de usar tantos remédios reguladores do sono, apetite, ansiedade e depressão... VEJA BEM, não digo que foram inúteis ou alienadores, mas chegou o momento em que consegui caminhar com minhas pernas, e cada indivíduo tem seu tempo. Deixar os remédios foi um pontapé inicial para trilhar este caminho que tenho colhido várias LIÇÕES. Hoje posso encarar cada um desses sentimentos, características, ou traços sem me culpar, ou penalizar, ou mesmo tentar extinguir o que faz parte da minha personalidade.
     Foi uma linda etapa de autoconhecimento, noites em claro, conversas e mais conversas e tudo começou a se encaixar. E ainda está se encaixando (  LIÇÃO I- vivendo dia após dia). Eu ainda tenho uma enorme descrença do mundo, das injustiças, e até me angustio, mas tenho valorizado mais o que de bonito vejo em cada gesto, em cada pessoa, aprendendo (LIÇÃO II - empatia).
     Se isso me faz a detentora da receita da felicidade, sei lá (LIÇÃO III - a) nem todo pergunta tem uma resposta), cada um de nós guarda tantos mistérios que felicidade acaba por ser muito vago, embora tão almejado. Isso se trata de algo que estará para além de mim (LIÇÃO III b) você não precisa estar no controle de tudo)
    Ainda que tudo pareça um caos, organizado em uma fôrma que não foi feita pra ele, é necessário refletir, sobre o outro e sobre si... claro! claro! O mundo não gira em torno de mim, mas não faz sentido eu girar em torno do mundo sem pensar em mim ( LIÇÃO IV- Ame-se). Ora, qual o sentido de estar viva?! Viver para os outros? Ou ter uma vida própria ? (em caso de dúvida recorrer LIÇÃO III a) )
 Em todo esse período de anos, e semanas, e meses, que não provavelmente não teve uma data fundadora e certamente se trata de um processo infindável,  o que fez mais diferença foi desacreditar no maniqueísmo, sem querer incorrer no erro de relativizar todos os valores e conceitos éticos e morais, mas devemos aprender que a vida não resume-se ao bem ou mal (LIÇÃO V - cada pessoa é um Universo), somos ambos, vivendo e praticando ambos e a eles o melhor nome a dar é erro e aprendizado, sem opô-los.

Não poderia ser hipócrita e defender que escrevi esse texto para os leitores, ou para manter o blog, ou para exercitar a escrita. A verdade é que escrevi para mim. Para satisfazer o meu desejo e alimentar a minha memória de que se , qualquer dia, há qualquer segundo, eu pensar em desistir de mim, venha aqui e resgate esse sentimento, que vai para além da minha tatuagem " Always Keep Fighting" no ombro. Isso não exclui a possibilidade de que seria uma alegria alguém utilizar essa postagem, pensada e vivida por tanto tempo, como o pontapé inicial para suas lições de ser feliz.

É egocêntrica, mas é com desejo de amor a todos vocês!

Status: ainda no aguardo da inspiração para escrever sobre Black Mirror e futuros distópicos.

___|Ao som de : Angra - Angels and Demons [Temple of Shadows - 2004]
___|Imagem:  Autorretrato de Vicent Van Gogh [1889]- Vincent Van Gogh



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